quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Gotículas da Graça - Certeza nascida das Dúvidas


 
“Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Cl 1.16, 17)

Confesso que andei meio sorumbático nesses últimos dias, pois, sabe como é, né! Uma pancada aqui, um tropeço ali, uma incredulidade acolá, um resmungo...

Mas, meio por “coincidência”, esbarrei com esses dois versos acima. Caramba! O que é isso?

Nele foram estabelecidas todas as coisas, Nele residem todos os tronos, os que vejo e também aqueles que nem imagino existirem.

Os tronos e reis que me dão as costas, me desdenham, e nem mesmo sabem que eu existo, todos esses estão a serviço Dele.

Ele é o arquiteto, pois todo projeto a Ele pertence. Também é o engenheiro que milimetricamente mede, calcula e assegura o andamento da história. É o mestre de obras, pois assalaria a todos aqueles que, segundo Seu desejo, chama para servi-lo, a fim de atender a seu planejamento.

Finalmente, Ele é o pedreiro que mete a mão na massa, pisa o mesmo chão empoeirado da humanidade, e permanece junto de nós, experimentando a dor, sofrimento e tantos medos do saber existir.

Ele é o início; estava por aqui antes de tudo; ele ajudou o Santo dos Santos a colar cada estrela no gigantesco céu.

Ele também se sentou ao chão, como aplicado oleiro, para com os seus cuidadosos e amorosos dedos fazer o maior projeto divino: a mulher e o homem. E, desde lá, como alguém apaixonado, nunca mais se afastou de nós.

E ainda mais, nada se estabelece, se mantém, ou é perene, sem que seus olhos o visem, aprovem e se alegre.

Algo de novo, vivo, pulsante, me circunscreve; há uma poesia no ar, mas que não se ouve; mas inegavelmente se sente.

Acho que é Ele. Acho não, sem dúvida é Ele, aquele que habita as profundezas de toda existência, como também singelamente senta ao meu lado carinhosamente, apenas para ouvir minhas preocupações, partilhar de meus sonhos e gargalhar de minhas bobeiras.

Rev. Marcos Amaral


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Gotículas da Graça - A Liturgia do Poder

" Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida.
   Na parede da memória, esta lembrança é o quadro que dói mais.
   Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os 
   mesmos e vivemos como os nossos pais"

Ele sofismou e perguntou a si mesmo, ainda que em alta voz, em indisfarçável desejo de despertar compaixão aos ouvintes: " Como conseguir largar o poder sem sofrer "
" Não há como! " ressoou a voz do Oráculo, e mais, disse o sábio em tom fantasmagórico: " Só há uma forma de não sucumbir à nevoa do poder: não o aceitando "

O poder não cega, e tampouco nos torna especial visionário, mas apenas sepulta o romântico, para fazer emergir a expressão mais autentica de nós mesmos.

O poder não aniquila ou aliena, mas sublinha o natural egoísmo e amor por si mesmo, algo herdado de nossos pais, inquilinos despejados do Éden.

O poder não abençoa ou amaldiçoa, mas, apenas, como o boto, hipnotiza sob a promessa de eternidade.

O poder não atrai os maus e transforma malignamente os bons, mas bem ao contrário, ele legitima os autênticos, e liberta os demônios dos inautênticos.

O poder não salva ou condena ninguém, pois ele é inanimado, não sofre fotossíntese, mas como no pôquer, faz do blefe sua maior estratégia, se multiplicando e fortalecendo, como bactéria, em que o hospedeiro é o coração humano, tão ambientado pela fome de si mesmo.

O poder é tão previsível quanto entrevista de jogador de futebol. Ele obedece a mesma lógica, seja Profano ou Sacro; Privado ou Público; Papal ou Protestante, são todos irmãos, filhos de um mesmo pai, gerados nas entranhas da vontade humana, que tem o coração como cálido ambiente, fonte de todo erro e corrupção.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Gotículas da Graça - O Reino de Deus e as Manifestações Públicas

" Pai nosso que estás nos céus, ... venha o teu Reino..." São Mateus

Diante dos muitos conflitos que envolviam a cena política nacional no início da década de 1960, perguntaram ao então governador do estado de Minas Gerais, José Magalhães Pinto: " Governador, onde Minas fica, diante desse complexo cenário político?" Mineiramente, o governador respondeu numa única tirada: " Minas! Minas fica onde sempre esteve"
Diante dessas tantas lindas, expressivas e emocionantes manifestações, ouço um som insistente, como vozes em surto psicótico: " pastor onde a igreja fica diante desse complexo cenário político? " Parodiando o mineirismo de Magalhães Pinto, digo: " A igreja! A igreja fica onde sempre esteve "
Essa crise sobre o posicionamento da igreja frente ao cenário hodierno que envolve o povaréu, é desde sempre uma constante dor na consciência evangélica, facilmente mobilizada pela passionalidade de uma agenda moral, em que temas sociais, tais como: educação, pleno emprego, moradia, corrupção, saúde geral e de qualidade, são banalizados e desmerecidos.
Os bons judeus achavam que o Reino de Deus viria por si mesmo, pois desde os tempo dos velhos profetas essa era a dominância na consciência religiosa do povo de Deus, eles entendiam que aquela raça de gente exploradora e aviltante, que solapava a sua juventude e sequestravam os seus sonhos haveriam de um dia se encontrar com a Ira de Deus que lhes daria o que mereciam, e para tanto deveriam se manter fiéis aos seus designíos, pois o Justo Juiz haveria de livrá-los dos contemporâneos sofrimentos.
" O Dia do Senhor Virá! " Era o som que eclodia do fundo da alma nacional da maioria dos religiosos, bem representada nos tempo de Jesus pelos fariseus.
Essa pureza, em certa medida é abalada a partir de um personagem no primeiro século antes da era cristã, chamado João Hircano, que não dando "bola" para a visão profética reinante, se auto intitula rei e sumo sacerdote de Israel e dizima seus naturais opositores. Hircano planta a semente do pensamento defendido pelos zelotes: O Reino de Deus não virá por si mesmo, sem que haja uma força externa que sirva de braço concreto para a construção da dignidade sonhada ao longo dos séculos pelos profetas.
Entretanto, Jesus apresenta uma terceira via sobre o Reino de Deus, por vezes parece se alinhar com os fariseus que relutavam em confrontar o sistema político vigente por acreditarem que o caminho da dignidade e liberdade deveriam ser adquiridos processualmente, como uma gangorra, ora pouco mais agudo, ora mais ameno.
O Santo de Deus reluta em ser visto como um revolucionário, um líder político, um salvador da pátria, afasta-se desse ideário coletivo: " o meu reino não é deste mundo "; " dai a César o que é de Cézar " " os homens se assenhoreiam sobre os outros, mas com vocês não será assim, antes vocês serão conhecidos quando se amarem uns aos outros " são citações que nos faz acreditar que o Senhor da Vida está concordante com os fariseus.
Opostamente Jesus lança mão de exemplos e atitudes que dão água na boca dos zelotes, aqueles que defendiam a conquista da liberdade pelo braço forte. Por vezes o Mestre dá pitadas de ensinos e exemplos que fazem os aguerridos libertários suspirarem de satisfação e admiração ao filho do  socialmente humilhado José, um simples pedreiro carpinteiro.
Ao distribuir pancadas nos ambulantes no episódio do santuário, quando disse: " o zelo pela minha casa me consome " Ali se vê um radical zelote, amante da pureza e pronto para matar e morrer por ela. Também quando constantemente confronta os fariseus lhes oferecendo habitualmente duras palavras de condenação que só eram ditas aos traidores do povo, também aí se parece Jesus com um vigoroso zelote.
Entretanto, na verdade, o que Jesus em suas andanças evangélicas mostra é uma diferenciada visão do Reino de Deus, pois podemos ver que ora ele aponta para um agir divino e soberano sem o qual nos será impossível toda força, confrontação e luta armada, pois somente ao Rei dos Reis pertence o tempo e todos os reinos.
Outrossim, o Caminho, a verdade e a Vida também nos ajuda a entender e compreender que o Reino virá de igual forma por esforço, dedicação e entrega, e seu próprio exemplo é a maior ilustração, pois em meio a miséria humana não cruza os braços, mas, bem ao contrário, Ele se coloca na estrada e trabalha arduamente na construção de uma grande rede de amigos discípulos, ao lado de quem inicia a construção do sonho havido há séculos, chamado: Reino de Deus.
Onde fica a igreja? A igreja fica onde sempre esteve.
A real igreja de Jesus Cristo sempre estará ao lado do povo, pois para ele coexiste. Estará em meio ao povo, pois é feita de sua substância. Estará à frente do povo, pois é força profética a apontar o caminho de Deus em direção à Vida, em direção à Ele.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Gotículas da Graça - Tolerando a intolerância


 Cresci ao lado de multiplicidade de religiões. Não tive, como meus filhos, o doce privilégio de ser abençoado com uma bela e fervorosa oração logo nas primeiras horas de vida, mas bem ao contrário, sou filho de um lar tão sincrético que somente em uma casa bailavam ao menos cinco credos: catolicismo, umbandismo, espiritismo, marxismo e ceticismo.
Sou calvinista antes mesmo de saber, pois não há outra explicação que não seja a eleição divina para dar conta de minha conversão e chamado ao ministério da palavra, em meio a tal babel cultural e religiosa.
Sou muito grato a Deus por fazer parte da Comissão Contra a Intolerância religiosa - CCIR, pois tenho a oportunidade de vivenciar junto a pessoas tão diferentes de mim e de credos tão antagônicos, um pouco da graça de Deus que está em busca de todos e de qualquer um, uma vez revelada em Cristo Jesus: o Caminho, a Verdade e a Vida. 
É compreensível o reducionismo que sofro ao ser acusado de alinhamento com os religiosos de matriz africana, pois fomos habituados, educados e formados para rejeitá-los, discriminá-los e mantê-los afastados, de tal forma que se alguém evangélico nutri relacionamento com esses SERES HUMANOS, alguma coisa está errada com esse tal religioso.
Gostaria que fosse mentira, o que vou narrar, mas não é.
Presenciei um pastor, de não pouco destaque entre os evangélicos do Rio de Janeiro,  que se recusou a cumprimentar uma religiosa da umbanda, que tomou assento conosco em uma mesa de debate. O inquiri de seu procedimento, diante do que, disse sem o mínimo constrangimento: " não toco o corpo de alguém que serve o diabo".
Meus filhos até o final do primeiro grau estudaram em escola de orientação romana, e mesmo que, na condição de evangélico tivesse o direito de dispensá-los das aulas de religião, eles frequentaram todos os anos como ocorria com os alunos católicos, pois achava fundamental que aprendessem, desde criança, ao menos, respeitarem e compreenderem a importância da religião de seu próximo, ainda que fossem discordantes.
Recentemente missionários brasileiros foram caluniados, injuriados e presos no Senegal e houve competente ação da Igreja Presbiteriana junto ao governo senegalês que, após um longo período, conseguiu a soltura dos missionários.
O curioso é que nenhum de nós teve dúvidas em compreender que a intolerância é fruto de uma sociedade em regime de exceção, alimentada pela ignorância e fundamentalismo, e que a liberdade religiosa serve, infelizmente a proliferação de credos com os quais discordamos, mas também dá ao evangelho a liberdade para ser semeado a tempo e hora, permitindo que ele frutifique em progressão geométrica.
Não há outro jeito, devemos tolerar a intolerância, mas bom seria que houvesse respeito e compreensão, ainda que continuássemos a pregar nosso Cristo, que é o único caminho para se chegar ao Pai.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Gotículas da Graça - Frágil, mas firme.

“ pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.”  Cl 1.16, 17
 
Confesso que andei meio sorumbático nesses últimos dias, pois sabe como é, né! uma pancada aqui, um tropeço alí, uma incredulidade acolá, um resmungo...
Mas meio por “coincidência” esbarrei com esses dois versos acima.
Caramba! O que é isso?
Nele foram estabelecidas todas as coisas, Nele reside todos os tronos, os que vejo e também aqueles que nem imagino existirem.
Os tronos e reis que me dão as costas, me desdenham e nem mesmo sabem que eu existo, todos esses estão a serviço Dele.
Ele é o arquiteto, pois todo projeto a Ele pertence. Também é o engenheiro que milimetricamente mede, calcula e assegura o andamento da historia. É o mestre de obras, pois assalaria a todos aqueles que segundo seu desejo, chama para servi-lo a fim de atender a seu planejamento.
Finalmente, Ele é o pedreiro que mete a mão na massa, pisa o mesmo chão empoeirado da humanidade, e permanece junto de nós, experimentando a dor, sofrimento e tantos medos do saber existir.
Ele é o início, estava por aqui antes de tudo, ele ajudou o Santo do Santos a colar cada estrela no gigantesco céu.
Ele também sentou-se ao chão, como aplicado oleiro, para com os seus cuidadosos e amorosos dedos fazer o maior projeto divino: a mulher e o homem, e desde lá, como alguém apaixonado, nunca mais se afastou de nós.
E ainda mais, nada se estabelece, se mantém, ou é perene sem que seus olhos o visem, aprovem e se alegre.
Algo de novo, vivo, pulsante, me circunscreve, há uma poesia no ar, que não se ouve, mas inegavelmente se sente.
Acho que é Ele. Acho não, sem dúvida é Ele! aquele que habita as profundezas de toda existência, como também singelamente senta ao meu lado carinhosamente apenas para ouvir minhas preocupações, partilhar de meus sonhos e gargalhar de minhas bobeiras.
 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Gotículas da Graça - O Deus que intervém


" Assim diz o SENHOR, que te criou, e te formou desde o ventre, e que te ajuda: Não temas, ó Jacó, servo meu, ó amado, a quem escolhi.
Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes" Profeta Isaías 44

Mais uma vez, belas palavras sobre as promessas do Senhor: Ele estará conosco!

Deus sabe bem como somos carentes por amparo e proteção.

São gotas encorajadoras, capazes de refrescar a alma árida e desedentar os exaustos e aflitos por segurança. Fique firme!

Deus relembra os seus feitos e a forma como agiu, age e há de agir em direção a seus amados e eleitos. sossegue!

Não há distração, tampouco conscidência, mas a sempre intervenção divina garantindo a concretização de Sua vontade. Estarei sempre a seu lado! 

Pedro anda sobre as águas. Basta olhar para Ele.

Entretanto, na medida que se deixa tocar pelos sentidos do arredor – o que não é fácil evitar – ele começa a afundar.

A natureza humana: mente e coração, logo são tomados por desespero diante da tribulação. Aprenda de Mim!

Vivemos, por vezes, momentos extremos e eivados de sombras pavorosas em que resistir e ser tenaz nos parece improvável. Sou seu refúgio!

Davi é mestre nesses extremos, ele viveu quase toda sua vida circunscrito por perseguição, incompreensão e traições.

O homem segundo o coração de Deus nos dá um banho de versos poéticos em que exala a total certeza de sua impotência e a mais radical dependência do Senhor. Eu sou o Seu pastor!

O sol está a pino, como todo carioca gosta! mas ele não permanecerá, por certo as nuvens cheias de aguaceiro nos visitarão.

Os dias nos convidam para um balé que nossos pés não acompanham, se cansam, dolorem.

Mais se lembre! Os que esperam no Senhor têm as suas forças renovadas.
 
Ele não nos prometeu soluções, mas, sim, que estaria conosco todos os dias.

 

 

 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Paz no Corpo de Cristo


“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um”. Cl 4.6

É inegável que, quando escrevi um artigo sobre os últimos acontecimentos – e, em determinado trecho fiz referência ao Pr. Marcos Feliciano –, não consegui atingir o que desejava, e consequentemente promovi um dissabor entre o povo de Cristo.

Acabei descumprindo a orientação da palavra de Deus em Colossenses, quando recomenda que nossas palavras sejam sempre agradáveis e temperadas. Obedecer a palavra de Deus é algo em que tenho muito prazer, e, portanto, deixo claro que não desejei e não desejo o mal a quem quer que seja, dentro ou fora da igreja.

  “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus”. Ef 5.15,16

Vivemos um singular e importante momento na história nacional, em que temas afeitos à família e à Igreja têm sido discutidos intensamente pela sociedade. Esse cenário não é gratuito ou espontâneo, pois sabemos que o Brasil está no centro da discussão mundial, não só pelos aspectos econômicos e sociais, mas também pelas motivações religiosas.

O Brasil hoje tem sido considerado o “pulmão religioso do mundo” em razão de sermos nós a maior massa de evangélicos frequentadores de santuários e católicos em todo globo. Por essa razão, há uma verdadeira romaria de antropólogos, sociólogos e teólogos de toda parte do planeta que vêm pesquisar esse fenômeno sócio-religioso.

  Entretanto, ao mesmo tempo, há um crescimento de correntes fundamentalistas, que tem feito aumentar tanto os debates religiosos, como os múltiplos casos de intolerância religiosa, especialmente contra as minorias.

“Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele”. I Co 9.22,23

  Desde há muito me sinto chamado por Deus a trabalhar junto à populações marginalizadas. Minha vida cristã e ministerial se pauta, há mais de 20 anos, a partir de um total alinhamento com as ações afirmativas, o que pode ser definido como a constante luta pela diminuição das diferenças sociais, em denúncia contra todo tipo de discriminação e combate radical a qualquer expressão de intolerância religiosa. Sempre acreditei que, fazendo assim, estaria cumprindo o “ide” do Mestre, e me fazendo colaborador do evangelho.

A questão da polarização entre o povo evangélico e os não-evangélicos acabou tomando contornos internacionais, exigindo uma posição da Organização das Nações Unidas – ONU. O organismo enviou comissários ao Brasil para que realizassem pesquisas sobre esse problema nas principais capitais brasileiras, que concluíram ser o Brasil, de fato, um país intolerante, especialmente no que se refere ao convívio pacífico junto às populações que professam religiões de matriz africana.

“... a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”. I Co 5.20,21

Foi todo esse cenário que gerou a criação no Rio de Janeiro da Comissão Contra a Intolerância Religiosa - CCIR, organização para a qual fui convidado, na condição de único membro evangélico, com o claro objetivo de transparecer a voz do Evangelho de Jesus, que não impõe, mas convida. Evangelho que não aniquila, mas respeita. Evangelho que não negocia suas convicções, mas convive em meio a diferença.

A CCIR é o significativo extrato da sociedade, sendo formada por religiosos dos mais variados seguimentos: mulçumano, judaico, evangélico, católico romano, umbandista, candomblecista, kardecista. Além disso, a CCIR é composta também pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, através de seus órgãos: Ministério Público, Policia Civil; e pelo Poder Judiciário; além de receber o apoio de vários acadêmicos, representantes das universidades.

Ou seja, forma-se um colegiado representativo do extrato da sociedade fluminense como um todo, sendo a minha presença ali a única voz que representa o cristianismo evangélico, o que é muito desafiador e difícil para mim, especialmente em razão de vivermos aqui no Brasil uma situação de constante intolerância religiosa. Tanto é assim, que sofro seguidos ataques nessa tentativa de promoção de respeito entre as religiões, e minha imagem e reputação são frequentemente insultadas.

Acredito que essas iniciativas sejam geradas por simples desconhecimento dos meus reais objetivos, o que espero que cesse a partir desse artigo. Imagino que parte das pessoas que me ataquem tenham ideias erradas sobre mim. Estou aqui também com esse objetivo, o de esclarecê-las sobre minha trajetória.

“Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mt 5.35,36 e 40

Meu chamado para trabalhar junto às minorias se deu em 1992, tendo trabalhado como capelão voluntário com portadores do vírus HIV, no Hospital Universitário Gafree e Guinle. Atendia pessoas que eram marginalizadas, em sua grande maioria pobres, negros e homossexuais. Também por essa ação, eu era fustigado com questionamentos e desestímulos a essa prática. Anos depois, passei a trabalhar com dependentes químicos. Muitos deles, pobres e negros, e por vezes até marginais. Também, nessa época, fui tratado com estranheza e hostilidades por alguns. E finalmente, desde 2008 tenho atuado na Comissão contra a Intolerância Religiosa, também como voluntário, na luta constante contra qualquer tipo de discriminação: racial, de gênero, e, claro, à liberdade de crença de todas as pessoas – não somente das que concordam comigo.

Nesses últimos anos, como membro da CCIR, tenho sido alvo de constantes calúnias e ataques de determinados seguimentos, no próprio meio evangélico, que causam enorme confusão ao público cristão. Há pessoas que afirmam que sou defensor de umbandistas e candomblecistas, satanista e coisas do gênero! Tendo em vista que minha imagem tem sido veiculada por programas de televisão e jornais em companhia de religiosos de outras confissões, e como eventualmente sou entrevistado em torno de temas que debatem a questão da intolerância, coisas absurdas são afirmadas sobre mim.

Cabe aqui frisar que a Comissão contra a Intolerância Religiosa não prega sequer o ecumenicismo, ou mesmo diálogo religioso, mas, sim, cidadania, ou seja, os valores que pertencem às sociedades democráticas, tais como: a liberdade de consciência e de fé; o respeito às diferenças; e a criminalização de toda e qualquer forma de preconceito.

“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”. I Pe 2.12

Ontem pude, mais uma vez, provar das misericórdias de Deus, pois fui homenageado com o prêmio Camélia da Liberdade, na categoria “personalidades”, que é um importante reconhecimento concedido pela sociedade civil a pessoas que colaboraram de forma determinante no campo das Ações Afirmativas. Por conta disso, concedi uma entrevista para o Jornal o Globo, que possivelmente, nesta semana, veiculará minha imagem ao lado de uma mãe de santo e de um frei. Estar respeitosamente ao lado das pessoas de outra religião significa o que? Que sou umbandista também? Que defendo o candomblé? Que sou católico? Ou sou um satanista? Quem sabe um bruxo? Sou o braço do PT na defesa das religiões afrodescendentes? Todas essas afirmações sobre mim vi veiculadas nas redes sociais, sem nenhum fundamento, responsabilidade ou compromisso com a verdade. Há apenas a motivação de ferir, caluniar e difamar.

“Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho”. I Co 9.16

Permitam-me dizer quem sou e a quem defendo: sou casado, tenho dois filhos adultos, pastor presbiteriano há 22 anos, tendo pastoreado apenas duas igrejas desde minha ordenação como pastor, sendo este o 18º ano que estou à frente da igreja presbiteriana de Jacarepaguá. Sou capelão do projeto social Ação Querer Bem, mantido por minha igreja que ampara 140 crianças em risco social. Sou presidente do meu querido Presbitério Jacarepaguá há três anos, atual presidente do Sínodo da Guanabara. Na vida acadêmica e profissional sou professor, psicólogo e escritor, mas, acima de tudo isso, sou servo de Jesus Cristo, a quem busco seguir, mesmo em meio a tantas incompreensões e perseguições injustificadas.

Continuarei a pautar minhas ações da mesma forma que tenho feito até hoje, fazendo silêncio diante dos ataques sofridos, ainda que injuriosos, caluniosos e difamadores, e atenderei sempre, com fidalguia e espírito cristão, a todos aqueles que me procurarem para externar suas convicções, dúvidas e críticas aos meus posicionamentos. Pois, para mim, o respeito, além de um gesto de cidadania, é, sem dúvida, uma marca do cristianismo verdadeiro.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Gotículas da Graça - A cegueira da luz

Dizem os chineses que o ponto mais escuro de uma sala é exatamente debaixo da luz. Prostitutas e publicanos precederão a muitos, que, com habilidade maneiam a lei divina. Um centurião romano foi capaz de receber de Jesus reconhecimento de sincero adorador. Uma prostituta lhe dedica algo tão emocionante e profundo, que Jesus lhe eterniza o exemplo. Jesus é conhecido como beberrão e amigo das prostitutas e publicanos. Apedrejá-la é imposição da lei, mas perdoá-la é direito do coração. Qual dos dois lhe parece mais atraente? Tem quem guarda, mas quem partilha e desfruta tem muito mais. Ruelas, valados e caminhos tortuosos, é onde encontramos o Mestre, bem como os sofridos da alma. Confesso minha inclinação para os sãos, eles se parecem com um lado de mim. Os doentes me assustam, eu na verdade os detestos, e me é absolutamente esforçoso amá-los. Eu e você emitimos sons e luzes capazes de fazer as pessoas compreenderem , conhecerem e desejarem Deus. São muitos feixes de luz! Roguemos a Ele não sermos cegados.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Gotículas da Graça - O cristão e a coragem


“ Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais. “ Josué


Há tanta gente atrás de episódios sobrenaturais.
Há tanta gente atrás de falar diretamente com Deus, seja através dos búzios, cartas, caboclos, leitura das mãos, ou mesmo nas reuniões de orações investidas de fenômenos sobrenaturais.
Há tanta gente querendo saber como e quando será o dia de sua sorte
Como Diógenes de Sínope que procurava com uma lanterna em punho um único ser humano honesto, virtuoso; eu procuro um cristão corajoso.
Alguém que envergue sua fé como asas e voe em direção ao alvo, ainda que a única segurança seja o invisível Deus que lhe afirma que está invisivelmente a seu lado, ainda que a onda o ameaçe a cobri-lo, as labaredas da vida a consumi-lo e o intempestivo vento o alce para indesejados lugares.
Sim, procuro um cristão corajoso, que não se deixe sequestrar pela dor, medo ou cansaço, mas se alimente da palavra do Eterno que nos promete sua Destra forte e infalível, dando-nos a sua chancela e currículo de feitos para nos convencer que ao final da história seremos conquistadores e haveremos de celebrar e nos embebedar de vinho, mas não aquele vinho que faz perecer e expor nossas vergonhas, mas o Vinho proporcionado pelo Espírito Santo, o Vinho que desce do céu, vindo diretamente da vinícola do Pai no qual encontramos vigor, alegria e paz que não nos são tirados jamais.
Tenho fé que encontre cristãos que aceitem a vida e corajosamente a vivam , pois além de ser essa a expectativa do Pai, também acredito ser isso o melhor para a nossa existência.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Gotículas da Graça - Logos


" No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" São João

Pulveriza vida e planta esperança

Cavalga soberano entre as trevas do medo e desencontro

Sorriso infantil, abraço de avó e amor adolescente, são rabiscos diante da arquitetura de seus efeitos

Transforma seres embrutecidos em construtores da vida e semeadores de sonhos

Vazio, porta de entrada para o nada; uma vez invadido por ele, transparece o alaranjado céu matinal de verão, que convida a bailar

Basta seu toque suavemente despretensioso para tudo que é morto conheça novamente a pulsação criativa

Início de tudo. Testemunha com interessado apreço o vai e vem dos viventes

Passado, presente e futuro são traços de seu rosto

Logos divino, procedente do Impensável, desenha desde os primeiros e genuinos raios solares até a derradeira noite.  

 

 

  

 

 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Gotículas da Graça - Gangorra Humana


" Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?"  São Paulo

Sou santo de menos para me perceber diferente
Sou malicioso demais para acreditar em pastores e contas milionárias
Sou suburbano demais para trocar conversa fiada por aparência
Sou presbiteriano demais para ser seduzido pelo pragmatismo gospel
Sou preto demais para aceitar a desfaçatez da frase: " no Brasil não há racismo, mas preconceito social"
Sou humano demais para evitar a gangorra de meus comportamentos e emoções
Sou cristão de menos e por isso odeio espelhos que refletem quem sou
Sou incrédulo demais com gente que diz me amar, mas que nem sabe quanto calço.
Sou insensato demais, e por isso continuo a acreditar que são as fraquezas e não as virtudes, que aprofundam as relações humanas
Sou pastor de menos, e por essa razão me vejo cercado por faltosos, contraditórios e desiluminados que encontro nas esquinas da vida

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Feliz 2013, mas pense bem!

" Portanto, prestem atenção na sua maneira de viver. Não vivam como os ignorantes, mas como os sábios.
Os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm." São Paulo

Cheguei a gritar-lhe, mas inevitavelmente partiu
Dobrou a esquina correndo como sempre, em direção à terra do nunca
Deixou um bilhete: " sou seu melhor amigo"
Discutimos muitas vezes, ele morria de inveja do amanhã
Dizia: " o amanhã é como neblina, só percebemos o fim quando acaba"
Sobre o ontem, ele sempre dizia: " ele é acusador, ressentido e irônico"
Eles três disputam o amor de meu coracão
Brigam por minhas escolhas
Seduzem meus pés sinuosos
Lampejam raios coloridos a atrairem meus olhos
Oferecem dóceis promessas para saciarem minha fome da alma
Cotidianamente, como meu cuco, repetiu 366 vezes em 2012: " pense bem "