quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Gotículas da Graça

Entre nuvens e montanhas


  Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Eclesiastes 1.2 

Ele acordou como habitualmente o faz nos últimos anos, com o coração cheio de esperanças e desejos, seu café da manhã já era recheado de compromissos e visão futurista em mudar, transformar, realizar.

Acalenta o sonho de seu avô comunista, em mudar o mundo, aniquilar a pobreza, erradicar a ignorância, que segundo o grande reformador João Calvino, é a mãe de todas as heresias.

Olhos altivos, mas não de orgulho, mas de fome por igualdade, solidariedade e justiça, parecendo revelar as bases do reino de Deus que não se conforma à injustiça, exploração e opressão aos pobres.

A vida da gente não é como as montanhas, mas como as nuvens, elas se movimentam imprevisivelmente, basta as vezes um ventinho pra bagunçar tudo.

Acho que por isso tanta gente vive com medo de si, medo dos outros, medo do porvir, acho que é em razão da indisfarçável certeza de que somos folhas verdes: viçosas, frutíferas, multicoloridas, mas apesar de tudo sabemos que somos folhas: frágeis, descartáveis, substituível no natural processo biológico de nascer, viver e morrer.

Ele acordou pretenso de vida, de futuros, de conquistas, se confundindo com um verdadeiro salvador da pátria, e bastou o meio do dia para ser engolido pelo término, silêncio, esquecimento.

Aprendi com minhas leituras, maioria delas, confesso que são imprestáveis, que a vida não tem nenhuma obrigação de nos atender, conceder o número de sorrisos que pretendemos estampar no rosto. Ela não tem a obrigação de nos chamar de amigos. Ela não tem a obrigação de evitar nossas iras e sofrimentos.

It’s over. Não sei por que, mas gosto muito da sonoridade dessa expressão da língua inglesa, que quer dizer: Acabou!

Eduardo Campos, um possível presidente do Brasil será sepultado esta semana, fruto de um lamentável acidente aéreo que vitimou seus aéreos sonhos e pretensões.

Mergulhei dentro de mim, aprendi pouco mais sobre tudo, me esvaziei um pouco mais, senti mais intensamente saudade de meus queridos, amei mais um pouco o que possuo, me senti pouco mais agradecido a Deus, porque a morte sempre nos ajuda a lembrar que a vida é como as nuvens, e não como as montanhas, ela passa, não permanece.