“ A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.” Mt 4.1
Jesus foi levado
pelo próprio Deus para ser tentado, é o que deixa claro o texto de Mateus.
Como sabemos que
Deus é Pai e não padastro, nos cabe a dúvida: por que ele fez isso?
Ao menos a minha
resposta é: não sei! Mas me interessa tentar compreender os desdobramentos na
vida daquele que está atravessando um deserto.
Não há dúvida que o
deserto é um lugar fascinante, útero de extremos, cheio de habitantes ingênuos,
mas surpreendentemente letais.
Noite densa, sem
amigos e consolo, profundos uivos da alma são ouvidos, frutos da singularidade.
Dias de exuberante e ofuscante luz, que impõem uma única regra: os olhos a se manterem fechados, defesa para buscar enxergar melhor.
Deus mandou Jesus
ao deserto, para ser testado pelo diabo, aquele que, sem piedade, coloca diante
de nós para enxergarmos, sem oculos escuros, o pior de nós, e, ainda por cima
nos açoita com acusações, muitas vezes verdadeiras, mas sempre impiedosas.
Jesus foi colocado
por Deus no deserto para entrar em contato consigo mesmo, ver bem quem ele é,
compreender do que seria capaz de ser.
É deserto, e
habitualmente costumamos reclamar do nó apertado da gravata; do salto alto
quebrado; do imprevisto que entra na festa da vida sem convite; do sonho que
pega o caminho errado e nunca chega; do coração árido, ouvidos atrofiados,
olhos umedecidos da lágrima, testemunha da dor da alma; da boca que exala fel,
vindo do amargurado coração.
Deus não nos quer
ver sofridos, infantis, oscilantes, incapazes de distinguir serpentes do mal,
frutos proibidos e pedras de pães.
Acho que Deus
continuará, por vezes, a nos mandar para o deserto, e, quando isso acontecer, se
lembre: Ele é pai, e, por isso, entre espinhos e pedras, também providenciará
flores, elas funcionarão como refrigério e evidência de sua graça e marca de
sua presença, pois, lembre-se, Ele também é Senhor do deserto.