quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Gotículas da Graça - Certeza nascida das Dúvidas


 
“Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Cl 1.16, 17)

Confesso que andei meio sorumbático nesses últimos dias, pois, sabe como é, né! Uma pancada aqui, um tropeço ali, uma incredulidade acolá, um resmungo...

Mas, meio por “coincidência”, esbarrei com esses dois versos acima. Caramba! O que é isso?

Nele foram estabelecidas todas as coisas, Nele residem todos os tronos, os que vejo e também aqueles que nem imagino existirem.

Os tronos e reis que me dão as costas, me desdenham, e nem mesmo sabem que eu existo, todos esses estão a serviço Dele.

Ele é o arquiteto, pois todo projeto a Ele pertence. Também é o engenheiro que milimetricamente mede, calcula e assegura o andamento da história. É o mestre de obras, pois assalaria a todos aqueles que, segundo Seu desejo, chama para servi-lo, a fim de atender a seu planejamento.

Finalmente, Ele é o pedreiro que mete a mão na massa, pisa o mesmo chão empoeirado da humanidade, e permanece junto de nós, experimentando a dor, sofrimento e tantos medos do saber existir.

Ele é o início; estava por aqui antes de tudo; ele ajudou o Santo dos Santos a colar cada estrela no gigantesco céu.

Ele também se sentou ao chão, como aplicado oleiro, para com os seus cuidadosos e amorosos dedos fazer o maior projeto divino: a mulher e o homem. E, desde lá, como alguém apaixonado, nunca mais se afastou de nós.

E ainda mais, nada se estabelece, se mantém, ou é perene, sem que seus olhos o visem, aprovem e se alegre.

Algo de novo, vivo, pulsante, me circunscreve; há uma poesia no ar, mas que não se ouve; mas inegavelmente se sente.

Acho que é Ele. Acho não, sem dúvida é Ele, aquele que habita as profundezas de toda existência, como também singelamente senta ao meu lado carinhosamente, apenas para ouvir minhas preocupações, partilhar de meus sonhos e gargalhar de minhas bobeiras.

Rev. Marcos Amaral


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Gotículas da Graça - A Liturgia do Poder

" Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida.
   Na parede da memória, esta lembrança é o quadro que dói mais.
   Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os 
   mesmos e vivemos como os nossos pais"

Ele sofismou e perguntou a si mesmo, ainda que em alta voz, em indisfarçável desejo de despertar compaixão aos ouvintes: " Como conseguir largar o poder sem sofrer "
" Não há como! " ressoou a voz do Oráculo, e mais, disse o sábio em tom fantasmagórico: " Só há uma forma de não sucumbir à nevoa do poder: não o aceitando "

O poder não cega, e tampouco nos torna especial visionário, mas apenas sepulta o romântico, para fazer emergir a expressão mais autentica de nós mesmos.

O poder não aniquila ou aliena, mas sublinha o natural egoísmo e amor por si mesmo, algo herdado de nossos pais, inquilinos despejados do Éden.

O poder não abençoa ou amaldiçoa, mas, apenas, como o boto, hipnotiza sob a promessa de eternidade.

O poder não atrai os maus e transforma malignamente os bons, mas bem ao contrário, ele legitima os autênticos, e liberta os demônios dos inautênticos.

O poder não salva ou condena ninguém, pois ele é inanimado, não sofre fotossíntese, mas como no pôquer, faz do blefe sua maior estratégia, se multiplicando e fortalecendo, como bactéria, em que o hospedeiro é o coração humano, tão ambientado pela fome de si mesmo.

O poder é tão previsível quanto entrevista de jogador de futebol. Ele obedece a mesma lógica, seja Profano ou Sacro; Privado ou Público; Papal ou Protestante, são todos irmãos, filhos de um mesmo pai, gerados nas entranhas da vontade humana, que tem o coração como cálido ambiente, fonte de todo erro e corrupção.