Diante dos muitos conflitos que envolviam a cena política nacional no início da década de 1960, perguntaram ao então governador do estado de Minas Gerais, José Magalhães Pinto: " Governador, onde Minas fica, diante desse complexo cenário político?" Mineiramente, o governador respondeu numa única tirada: " Minas! Minas fica onde sempre esteve"

Essa crise sobre o posicionamento da igreja frente ao cenário hodierno que envolve o povaréu, é desde sempre uma constante dor na consciência evangélica, facilmente mobilizada pela passionalidade de uma agenda moral, em que temas sociais, tais como: educação, pleno emprego, moradia, corrupção, saúde geral e de qualidade, são banalizados e desmerecidos.
Os bons judeus achavam que o Reino de Deus viria por si mesmo, pois desde os tempo dos velhos profetas essa era a dominância na consciência religiosa do povo de Deus, eles entendiam que aquela raça de gente exploradora e aviltante, que solapava a sua juventude e sequestravam os seus sonhos haveriam de um dia se encontrar com a Ira de Deus que lhes daria o que mereciam, e para tanto deveriam se manter fiéis aos seus designíos, pois o Justo Juiz haveria de livrá-los dos contemporâneos sofrimentos.
" O Dia do Senhor Virá! " Era o som que eclodia do fundo da alma nacional da maioria dos religiosos, bem representada nos tempo de Jesus pelos fariseus.
Essa pureza, em certa medida é abalada a partir de um personagem no primeiro século antes da era cristã, chamado João Hircano, que não dando "bola" para a visão profética reinante, se auto intitula rei e sumo sacerdote de Israel e dizima seus naturais opositores. Hircano planta a semente do pensamento defendido pelos zelotes: O Reino de Deus não virá por si mesmo, sem que haja uma força externa que sirva de braço concreto para a construção da dignidade sonhada ao longo dos séculos pelos profetas.
Entretanto, Jesus apresenta uma terceira via sobre o Reino de Deus, por vezes parece se alinhar com os fariseus que relutavam em confrontar o sistema político vigente por acreditarem que o caminho da dignidade e liberdade deveriam ser adquiridos processualmente, como uma gangorra, ora pouco mais agudo, ora mais ameno.
O Santo de Deus reluta em ser visto como um revolucionário, um líder político, um salvador da pátria, afasta-se desse ideário coletivo: " o meu reino não é deste mundo "; " dai a César o que é de Cézar " " os homens se assenhoreiam sobre os outros, mas com vocês não será assim, antes vocês serão conhecidos quando se amarem uns aos outros " são citações que nos faz acreditar que o Senhor da Vida está concordante com os fariseus.
Opostamente Jesus lança mão de exemplos e atitudes que dão água na boca dos zelotes, aqueles que defendiam a conquista da liberdade pelo braço forte. Por vezes o Mestre dá pitadas de ensinos e exemplos que fazem os aguerridos libertários suspirarem de satisfação e admiração ao filho do socialmente humilhado José, um simples pedreiro carpinteiro.

Entretanto, na verdade, o que Jesus em suas andanças evangélicas mostra é uma diferenciada visão do Reino de Deus, pois podemos ver que ora ele aponta para um agir divino e soberano sem o qual nos será impossível toda força, confrontação e luta armada, pois somente ao Rei dos Reis pertence o tempo e todos os reinos.
Outrossim, o Caminho, a verdade e a Vida também nos ajuda a entender e compreender que o Reino virá de igual forma por esforço, dedicação e entrega, e seu próprio exemplo é a maior ilustração, pois em meio a miséria humana não cruza os braços, mas, bem ao contrário, Ele se coloca na estrada e trabalha arduamente na construção de uma grande rede de amigos discípulos, ao lado de quem inicia a construção do sonho havido há séculos, chamado: Reino de Deus.
Onde fica a igreja? A igreja fica onde sempre esteve.
A real igreja de Jesus Cristo sempre estará ao lado do povo, pois para ele coexiste. Estará em meio ao povo, pois é feita de sua substância. Estará à frente do povo, pois é força profética a apontar o caminho de Deus em direção à Vida, em direção à Ele.